Ele olhava aquelas fotos antigas e sentia que uma estranha angústia tomava conta de seu peito. Queria voltar, mas talvez não fosse isso o certo; pelo menos não agora. Pensava naquele maldito trem que havia o levado para longe, há muito tempo atrás. Fora uma decisão precipitada, confessa, mas um jovem de apenas 18 anos não conseguiria raciocinar direito, não sob tanta pressão.
Abandonar, deixar para trás: só agora ele conseguira ver que essa não é a forma mais indolor de acabar com as próprias chagas. Velhas lembranças o atormentaram por anos consecutivos, e já passara da hora de dar um basta nessa situação. Embora sua vida ali fosse calma e confortável, era como se um pedaço dele (talvez a alma) não estivesse consigo. Queria poder viver em um mundo em que tudo fosse possível: onde os sonhos se realizassem, as pessoas fossem constantemente felizes, e não houvesse o medo. Ah se deus soubesse (e se ele existe, é bem provável que saiba) quantas vezes o horror tomou conta de seu corpo, não lhe restando nenhuma alternativa - exceto as mais dolosas- para encontar um pouco de conforto. Mas o conforto era passageiro, e a sua própria mente insistia em machucar-lhe. E feria demais, as feridas eram tantas, que nem mil anos seriam capazes de cicatrizá-las.
Agora, encontrava-se ali, mais uma vez só. Um silêncio completo, triste e ao mesmo tempo acolhedor. Ele ria: não tinha um bilhete, mas esperava um trem. Pensava em como a vida podia ser engraçada, se vista por diferentes ângulos; e relembrava de seus parentes, tão distantes dali, quanta falta faziam! Gostaria de estar com eles agora, rindo das peripécias dos tios glutões e ouvindo atentamente as orientações clichês de seus pais. Podia ouvir ao longe o barulho nos trilhos: o trem aproximava-se. Acendeu seu último cigarro, levantou-se e deu um passo, lembrava do rosto enrugado de sua velha mãe. Outro passo, e a imagem de seu pai vinha-lhe à cabeça. Conforme ia andando, a saudade aumentava. Parou na ponta da plataforma, e o trem já apontava no horizonte, andando demasiadamente rápido. Ele sorria, tinha a certeza de ter feito a melhor escolha possível. O barulho provocado nos trilhos era ensurdecedor, aquela ferrovia era velha e bastante enferrujada. Aquele monstro de ferro estava chegando perto (fechou os olhos), cada vez mais perto (confirmou em sua mente a própria decisão), perto demais (atirou-se nos trilhos).
9 comentários:
Caraca, que ótimo texto
e por coincidência a pouco
tempo escrevi algo sobre nostalgia também: http://johnyfarias.blogspot.com/2007/11/nostalgico.html
Belo texto moça, e triste nem sempre desistir é o melhor caminho,
sobre isso também fiz um texto:
http://johnyfarias.blogspot.com/2007/11/oitavo-andar.html
Bacana seus meandros e formas
de buscar maneiras de expressão
dentro dos contextos.
Se cuida,
Beijo's
Olá! Adorei seu cantinho e já linkei lá no ESA. Parabéns pelo talento e poesia contido em seus textos. Meu favorito até agora é o conto Delirios Noturnos, estou curiosa e esperando que continue (vai continuar ne?!)
Beijos!!!
muito bom o texto também :). o ultimo acontecimento me lembra uma cena de 'O Albergue' haha. é, tambem achei melhor, tava me doendo o cérebro ver aquilo já. parece mais livre agora não é ?
beijo querida ;*
obrigada, fraan! confesso que me também me encantei com algumas fotos que você pôs no orkut, tem futuro querida!
beeeijos!
um desfecho digno de prêmiação
um lirismo tragado em doses lentas e fortes... imagens fortes... pela falta de amor a si mesmo se chega a esse mundo
e um fim, como quem já bêbado de depressão engole seu último suspiro
simples assim: excelente texto!
http://artepoiesis.blogspot.com/
Foi dolorido isso... gostei do desfecho :)
Bom reaparecer aqui.
Bjs!
Muito bom seu Post!!!
Estarei sempre por aqui!!!
Fique na Paz!!!
Abçs
Apoteótico o final senhorita! Coroastes a bela narrativa:)
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