quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Ironia


Sempre sonhara ser um herói. Desde pequeno, era isso que mais desejava. Via na televisão, em todos aqueles programas que passavam à noite, milhares de vidas sendo salvas por pessoas corajosas, queria ter sido uma delas. Gostaria de ter uma capa para poder sobrevoar a cidade, atendendo à chamados de cidadãos em situações de risco. Droga, que sonho mais estúpido!

Sentado em uma sarjeta, bebia uma cerveja qualquer. Cabelos desalinhados, sua camisa xadrez toda aberta, com as mãos cruzadas (como em um ato qualquer de penitência), sequer sabia o que estava acontecendo. Tinha pequenos flashes de memória, que pouco (ou quase nada) lhe diziam sobre o que acontecera. Queria poder lembrar. O que fazia ali, naquele lugar e naquela noite escura? E onde estava Ela?

Sua mente, tão confusa e embaralhada, será que agora lhe pregava uma peça? Ele podia sentir o perfume Dela, podia lembrar do seu sorriso doce, de seus longos cabelos e de sua voz. Tome mais um gole. Podia ver a lua, parecia que ela observava-o como em gesto de reprovação, aquele céu nada estrelado, anunciava a chuva, que provavelmente viria em breve. Junto com um mais um flash de memória, um arrepio percorreu seu corpo: Ela nunca mais voltaria.

Olhou para as próprias mãos, ensangüentadas, banhadas naquele líquido rubro e pastoso, apenas queria acreditar que não era verdade, céus, não poderia ser. Mas era. Uma briga qualquer, ciúmes doentio, um pedido de perdão e um punhal. Cinco golpes no coração, e ele ainda lembrava da última frase: EU TE AMO, E É PARA SEMPRE.

Ainda sentado, ajeitou seu casaco, enquanto suas lágrimas misturavam-se em gotas de chuva. A dor que ele sentia era imensurável, queria acordar daquele pesadelo, mas não podia, sabia que era real, e isso o feria ainda mais. O destino é irônico, não é? Logo você, que sonhava em salvar uma vida, acaba de matar a pessoa que mais lhe amou.
E seu grito de dor foi tão forte, que ecoou na escuridão.

12 comentários:

Johny Farias disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Johny Farias disse...

Quando somos crianças sempre sonha ser algo assim, herói e salvar vidas.
Quando a gente cresce ou acha que cresce as coisas mudam, ou como bem disse John Lennon em 71,
"dreams over".
Mas se pode salvar vidas sem usar capas ou sem atos heróicos, assim
como se pode matar uma vida sem
ter um punhal na mão.

Beijo's

Anônimo disse...

A ironia parece uma brincadeira de criança, como se o destino gostasse de colocar nossos desejos e sonhos à prova, todo dia, todo segundo é feito de escolhas que colocam-nos sempre em provação. Aí quando a gente pensa q passou em uma prova, era só uma parte dela... alonga-se até o fim de nossas vidas...

(Obrigada pelo aviso do profile do Luce, arrumei xD)

Anonimo disse...

Texto dialético... começa com uma tônica e subverte surpreendentemente no final!

Os heróis sempre são contraditórios, em sua forma de heróis...belos, perfeitos, imortais; em sua forma humana... feios, fracos e mortais.

Gostei muito do texto.
Mudastes o nome de postagem? Vou mudar lá no link.

Beijos.

Anônimo disse...

Tu escreve cada coisa guria. Um dia leio todos. Te amo amiga. :*

Bárbara Lemos disse...

Até que ponto amar é saudável, não?

Muito bom, moça. Você escreve muito! Dá até vergonha voltar pro meu blog agora. Risos.

Beijo meu.

Anônimo disse...

Atualizaaaaaaaa =P
*a chata cobrando*

Johny Farias disse...

Tem um presente pra você no meu
blog, tá?

Ricardo Jung disse...

Pobre maldito... não foi capaz de engolir o próprio orgulho

FM disse...

Podemos ser heróis todos os dias, no auxílio ao próximo...
Deixo-te Essências de Luz.

Caroll . disse...

Heróis, mocinhos ou bandidos...
quem nunca fantasiou algo assim quando pequeno?!

Mudanças acontecem... sonhos mudam e as vidas tomam determinados rumos...

Até inesperados talvez... mocinho que vira bandido e vice-versa.

Um viva para os extremos que, de certa forma, impedem a vida de ser somente mais uma clichê!


bJo

Di' stante Enfim disse...

Não é de hoje que amor é ódio são amantes.