Os músculos de Seu corpo estavam começando a doer, aquela caminhada era um tanto longa e perigosa para uma madrugada de sábado. O caminho, antes escuro, agora começava a ser iluminado pelas luzes de uns ou outros botecos, que atendiam meia dúzia de velhos beberrões. Decidiu parar em um deles, pois sua boca estava seca e necessitava de uma generosa dose de whisky. Revistou os bolsos do seu jeans desbotado e encontrou uma nota de dez dólares (todas as suas calças tinham uma nota dentro, afinal, "uma mulher bem prevenida vale por duas" -era o que sua mãe sempre lhe dizia). Entrou no Lord Sodomy, caminhou vagarosamente, puxou um banco e sentou-se no balcão. Fitou o garçom com seus olhos esbugalhados e temerosos:
-Uma dose de whisky, por favor. - disse, enquanto observava os contornos bem traçados daquele belo jovem.
- Aqui está, moça, um whisky com bastante gelo. - ele sorria enquanto falava.
- Obrigado. Sabe, eu havia esquecido de pedir gelo, como você adivinhou? - Ela roumpeu-se em risos, e continuou - Mas que bobagem, como se você pudesse ler meus pensamentos.
- Talvez eu possa... - disse aquele misterioso homem.
Seu olhar era provocante, assim como o resto do seu corpo. Aqueles olhos azuis fitavam-na constantemente, o que causou-lhe um certo constrangimento.
- Sabe, - continuou ele - não é bom que uma jovem bonita como você ande sozinha por essas ruas, ainda mais de madrugada. Pode ser perigoso, até mesmo fatal.
- E o que fazer quando o perigo é você mesmo? Todos os lugares são fatais, todos... - os olhos Dela perderam-se no vazio.
- Bom, tomar uma dose de whisky num bar chamado Lord Sodomy, cheio de homens suados e fétidos, não é, de fato, a melhor opção. - ele falava com um sorriso forçado, que, àquela hora da madrugada, era até encantadora.
- Lord Sodomy é um nome bastante irônico para um bar só de homens. - disse Ela, antes de tomar um gole daquele whisky vagabundo.
Os dois riram com uma espontaneidade fascinante, atraindo a atenção dos poucos fregueses que ali restavam.
- Aonde você mora? Meu expediente está quase acabando,e bem... eu pensei que poderíamos... -a face dele estava levemente corada agora.
- Duas quadras acima do cruzamento entre a Quinta Avenida e a Far Away, moro no prédio ao lado da Magic Dream, sabe onde fica? - Ela falava rapidamente, quase tropeçando nas palavras.
- Sei sim, já morei lá perto. Posso te levar até em casa? - os olhos dele tinham um brilho subliminar.
- Eu adoraria. - disse Ela, calmamente.
Virou o último gole do whisky e levantou-se, mal podia ficar em pé, acabou se escorando no balcão. Eram 4:10, o tempo havia passado tão lentamente... Vinte minutos depois, Ela e o misterioso rapaz estavam à caminho da sua casa. Tentava dizer algo inteligente, mas não conseguia. Talvez aquele momento de silêncio tivesse uma magia especial, que era impossível de ser descrita.
Atravessaram aqueles becos escuros sem trocar uma palavra. Durante o resto do trajeto, limitaram-se a frases feitas. Parecia que o mundo girava devagar, e, por mais entorpecida que estivesse, Ela sentia que, lá no fundo, havia algo a mais nesse encontro inesperado.
Ela não via nada em volta, parecia que a cidade estava deserta. Se não fossem alguns carros que passavam em disparada, ela teria alimentado essa idéia.
Agora, eles estavam na porta do prédio no qual Ela morava. Seria a despedida.
- Está entregue, moça. - as palavras dele soavam como melodia.
- Então, é só isso? - a pergunta Dela vinha como uma grande decepção.
- Não, você sabe que não! - ele ria ao pronunciar essas palavras.
Envolveu-a pela cintura e deu-lhe um beijo. Estavam extasiados, envolvidos em uma trama na qual eram protagonistas. Os sons da noite tornaram-se a melodia perfeita para aquela cena. Subiram aquelas escadas pútridas abraçados. Ela abriu a porta, ele levou-a para o quarto. As luzes apagaram-se, então...
A claridade invadia o pequeno quarto desarrumado, o barulho que vinha da rua era ensurdecedor. A cabeça Dela estava pesada, pouco lembrava sobre a noite passada, exceto pelo fato de ter acabado seu conturbado namoro, e se drogado para passar a dor. Mas sabia que havia algo a mais... Olhou no relógio, eram exatamente 14:54. Como num flash, ela lembrou da 'caminhada noturna', lembrou-se do bar, do garçom, do whisky barato... Será que havia sido real? Ainda podia sentir o perfume dele. Quase de súbito, levantou-se da cama, tomou um rápido banho, vestiu-se de forma peculiar, passou uma maquiagem forte e saiu de casa. Andou lentamente pelas calçada, agora ela observava as pessoas. (Como eram estranhas de dia! - pensou Ela)
Lembrava perfeitamente do caminho que tinha percorrido na madrugada, os becos, os bêbados, as prostitutas, tudo vinha perfeitamente na sua memória. Como num filme do cinema mudo, Seu corpo agora era pura nostalgia. Andou alguns metros esperando avistar uma alma viva naquele local. Aquelas ruas eram mais vazias de dia, e isso era um tanto estranho. Enfim enxergou um homem, que parecia estar lúcido, o que era difícil de se encontrar por ali. Resolveu então pará-lo para perguntar.
- Com licença, onde fica o Lord Sodomy?
Ele olhou para ela com uma certa dose de espanto, e respondeu:
- Bom, ficava ali. - e apontou para algumas ruínas atrás Dela.
- Tá cara, você deve estar brincando comigo. É impossível, eu estive aqui ontem. - disse Ela com uma ponta de sorriso.
- Olha moça, eu nem sequer lhe conheço, mas impossível seria você ter vindo aqui ontem. Esse lugar pegou fogo há 6 anos, e desde lá nunca foi reaberto. Algumas pessoas, inclusive, têm medo daqui. Ninguém sabe de onde começou o fogo, uns dizem que o garçom tinha pacto com o demônio e acabou rompendo-o, mas eu acho isso uma bobagem. - o homem parecia não dar importância para o que dizia, mas também não parecia estar mentindo.
- Ga-garçom? E onde ele mora? - o pânico era evidente em Seu rosto.
- Haha, moça, ele morreu no incêndio, todos morreram naquela noite. Foi um pouco estranho, pois o fogo não atingiu nenhuma casa ao lado, mas o que lhe disserem além disso, acredite, é pura lenda urbana. Se me der licença, estou atrasado. - então o homem foi embora, apressadamente.
O horror tomou conta de Seu corpo e de Seus pensamentos, então Ela correu. Correu sem olhar para trás nem sequer uma vez. Vozes tumultuavam sua cabeça, risos, eram muitos risos. Chegou em casa apavorada, trancou a porta e tentou parar de tremer. Serviu uma generosa dose de absinto e tomou, em um gole só. Mas no fundo Elizabeth sabia que qualquer tentativa para manter a calma seria inútil, pois algo lhe dizia que aquilo não acabaria ali. E estava certa...
Obs: Sim, eu sei que ficou uma grande porcaria. Quem sabe um dia este conto possa ter continuação, ou não...
4 comentários:
bom texto fran, só cuida-te pra não tornar-te repetitiva com algumas expressões. :*
Fiquei assustada! Hehehe, brincadeira. Ótimo conto, espero que continue. E adorei as ilustrações do blog :D
Beijão!
Naum ficou uma porcaria não...
Gostei.
Mas não sei porque achei que fosse mesmo ser uma fantasma...
Talvez um pouco previsível em algumas expressões.
Porcaria? Discordo moça. Gostei bastante da narrativa. Aliás, é inegável a intimidade que possue com a literatura gótica. Todavia, admito que gostaria de vê-la enveredar-se por outras searas - creio que seria deveras inusitado o resultado. Escreve demasiadamente bem moça: consegue prender a atenção do leitor do primeiro ao último parágrafo; não joga palavras fora decerto:)
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