sábado, 24 de julho de 2010

Pólos opostos

O verdadeiro risco não está nas substâncias tóxicas, a imaginação é o risco. Nem venenos são tão nocivos. Pensar é perigoso: tortura-se o corpo e a alma de uma só vez. E a dor? Bem, isso é relativo. Você pode ingerir uma caixa de sedativos e acabar parando em um plantão de hospital, com a luz bruxuleante e enfermeiras cansadas, que seguirão a risca o procedimento padrão: salvar uma vida vazia, que fará fila com os pobres de espírito logo na outra manhã. Ou, então, pode experimentar passar uma noite em claro, revirando-se na cama e suando frio, com o coração acelerado, olhar perdido no movimento que as sombras fazem na parede. Não há como controlar, os pensamentos lhe dominam com força descomunal, vêm e vão a hora que bem entenderem. Você simplesmente perde o controle da situação.
Olha, não julgo ninguém. Só quero afirmar que o segundo caso dói mais, principalmente quando os dias passam e os pensamentos permanecem. É algo constante, não sei se você entende, mas eles simplesmente não me abandonam. Troco de canal, mudo o rumo da conversa, desligo a música, tomo o triplo de café que deveria; tanto faz, tudo se repete dia após dia. Venho seguindo o mesmo padrão comportamental destrutivo. Nos poucos instantes em que consigo desligar-me de mim mesma, pareço um zumbi desses filmes trash, algo inerte, sem vida. Não sei ao certo se ainda é dor, pode ser apenas o costume de chama-la assim, sinceramente não acho que faça diferença nesse momento. São ciclos, entende? Sei que qualquer dia vou acordar em um outro astral; algo diferente disso, parecido com aquela felicidade enlatada que os comerciais de margarina nos empurram garganta abaixo (e não reclame, entre na fila, saia do outro lado, semelhante aos seus iguais). Posso até gostar desse novo estado de espírito, ele pode até durar, mas logo voltarei a me sentir exatamente assim. De volta ao início, chegando ao final, pulando para os extremos, tudo tende ao exagero.
E por mais que doa, por mais que machuque, eu prefiro dessa forma. Estraçalhando minuciosamente essa tristeza, encontrei-me perdida nesse vazio. It was best like this.

Um comentário:

Bruno disse...

Uma pitada de bom-humor crítico e uma grande dose de consciência interior. São dois dos ingredientes indispensáveis à fermentação da beleza destas palavras.

Parabéns!