segunda-feira, 5 de julho de 2010

Tententender

Ela queria sentir. Precisava, desejava sentir. E a vontade era tamanha, que, então, imaginou. Projetou em sua mente uma lâmina, afiada, reluzente; direcionou-a contra a própria carne, para a esquerda, para a direita. Cortou-se lentamente, com um sorriso um tanto doentio, e era quase como se fosse real.

Nos seus pensamentos, o sangue escorria. Calmo, passivo, ao mesmo tempo que revirava o seu mundo. Ah, era assim que tinha que ser. Sim, ela também podia sentir. Num fluxo monótono, aquele líquido rubro e pastoso escorria, formavam-se gotas que pingavam no chão, esvaindo-se para completar o vazio que a havia entediado.
Depois de um tempo, imaginar perdeu a graça. Abrindo lentamente os olhos, estava de volta ao seu mundo, tudo continuava igual, nada saíra do lugar.



Algum tempo depois, ao olhar para o próprio pulso, viu um pequenino ponto vermelho, que, de tão teimoso, escapara de sua imaginação para ali se instalar, zombeteiro.  Digam-me, senhores: a realidade é sempre aquilo que enxergamos?

3 comentários:

Lidiane a. disse...

Adorei muito, mas MUITO mesmo esse post. Nem sei o que dizer sobre ele, tá maravilhoso!

úlima disse...

Acho que há vários tipos de realidade, talvez elas possam se misturar, como no seu conto. Quem sabe?
^^

Muito bom o seu texto :]
Té mais
Beijos
;*

vinícius reis disse...

Essa "realidade" que insiste existir na consciência é que nos propicia enxergar as coisas de diferentes formas. Uma realidade que lhe dá compreensões distintas e variadas. Ótimo texto.