terça-feira, 6 de julho de 2010

A ti endereçada

Querida Alice;

O mundo real é incrivelmente chato. Os dias são cansativos, as pessoas são monótonas. Sabe, crescer é indubitavelmente fatigante. Se posso lhe aconselhar algo, permaneça exatamente onde está. O Coelho Branco enganou-se, ele não está atrasado, as coisas acontecem a seu tempo e isso é perfeitamente normal.

Certo dia, minha cara, percebi que eu estava fazendo o relógio andar depressa demais. Havia acelerado o ritmo, adiantado os fatos e muito se perdeu por causa desse meu erro. Envelheci meio século, de pensamentos críticos e amargas conclusões sobre a vida, até que pude aprender a lição. Acho que sei quem sou.

Defendo, com unhas e dentes, o seu direito de sentir-se confusa. Seria bom que não nos obrigassem a saber quem somos a todo o instante, afinal, isso é uma variável. Ninguém permanece para sempre igual, minha cara, posso apostar que já não sou a mesma pessoa que era no instante em que sentei para escrever-lhe essas palavras.

Chame o Chapeleiro, deixe-lhe servir o chá. Aproveite para degustá-lo calmamente, afinal, as horas não passam por aí, e sempre haverá um gato disposto a sorrir-lhe cordialmente. Mande minhas saudações à Rainha; jamais esqueça de manter a calma, pois perder a cabeça pode ser realmente perigoso.

Um beijo, Até a vista.

2 comentários:

vinícius reis disse...

Seu primeiro parágrafo foi perfeito.

Lidiane a. disse...

Meio que amei esse post, Fran.